Até bem pouco tempo atrás, para alguém sentir atração por outra pessoa, tinha que haver o contato físico. As pessoas precisavam se conhecer, se ver, se tocar, para sentir que se gostavam. Mas agora são cada vez mais frequentes as histórias de amores virtuais e o mundo tecnológico vem se desenvolvendo rapidamente. Com a possibilidade das vídeo-chamadas, essa prática tornou-se mais pessoal. O envolvimento emocional entre “parceiros” que moram em outras cidades, países ou, até mesmo, outros continentes, passou a fazer parte da realidade. Alguns nunca se encontraram pessoalmente, mas são tão íntimos que podem “quase sentir” o cheiro do ser amado, o calor do abraço o gosto do beijo. Pensando sobre o assunto, eu me lembrei de um trecho do livro “A alegria de ensinar” de Rubem Alves: “Não é à toa que Adélia Prado tenha dito que “erótica é a alma”. Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que moram nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso que Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: Continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a trinta anos?”
Como é importante o prazer de compartilhar ideias, sentimentos e vivências com a pessoa amada, enfim, intimidade. O interessante é que através de encontros virtuais, as pessoas podem, algumas vezes, comunicarem-se com muito mais liberdade do que pessoalmente. Confidências podem ser feitas, “abre-se o coração”, principalmente, quando interlocutor merece confiança, é uma pessoa que “escuta” com atenção e que jamais fará pouco de seus sentimentos. Será que esse sentimento pode ser chamado de amor? Será que podemos amar uma pessoa que conhecemos apenas virtualmente? Alguns relacionamentos onde existe o encontro físico, que chamaremos aqui de “reais”, valorizam em demasia o aspecto sexual e estético, prendendo-se a características puramente corporais, deixando de lado o companheirismo e o campo das afinidades. Já nos “amores virtuais”, pode-se passar horas conversando com outro sem se dar conta que o tempo passou. Mas, algumas pessoas, fazem mau uso disso, mentindo, fingindo ser o que não são e há, inclusive, criminosos que tentam extorquir dinheiro ou ter outros ganhos com esses encontros.
Atualmente, muitos são os amores virtuais, sendo comum a esses casais encontrarem a magia de “voar” pelos mundos em que moram as palavras, os sentimentos, a fantasia; mundo este que pode até se tornar real.
Ana Lúcia Gonçalves, psicóloga, psicopedagoga, pedagoga e acupunturista. Idealizadora e coordenadora do projeto “Psicólogos Brasileiros Online”. Artigo originalmente publicado na coluna “No Divã” do jornal “Diário da Serra” em 29 de outubro de 2004. Atualizado em julho de 2020.